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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Suvenir de boleiro

Brasão da cidade de Córdoba

Havia alguns dias estava pela estrada. Passava pela terceira cidade da viagem, a segunda na Argentina. Estava em Córdoba, em meio ao pampa argentino. Capital e província carregam o mesmo nome, uma homenagem à cidade espanhola de onde saíram seus fundadores ali atrás na história.

Córdoba serviu de base para algumas esticadas curtas, como ir a Villa Carlos Paz, um balneário, que o malandrão aqui visitou no inverno. Resultado: existia mais hotéis que gente na cidade. Duas coisas me chamaram  atenção: uma galeria de arte muito bonita que ficava sobre o lago, onde se ouvia música brasileira, e o cuco. Pois é, os caras têm um mega-cuco de sei lá quantos metros de altura no meio de uma praça. Sempre dou uma risada ao lembrar porque me neguei a acreditar que aquilo seria um ponto turístico de Carlos Paz. Outra esticada bacana foi para Alta Gracia, onde Ernesto Che Guevara passou a infância. Na pequena cidade, a casa da família Guevara virou um pequeno museu. Uma das partes mais bacanas da viagem, sem a menor dúvida.

Em Córdoba houve o enfrentamento da menor temperatura durante o dia. Numa bela tarde, três graus negativos baixaram sobre a cidade que, como toda a Argentina, era visitada por uma onda polar.

Menos frio fez em uma noite, talvez zero grau ou um pouco mais quando saí com uns canadenses e equatorianos. Fomos a dois pubs, conversamos e nos divertimos. Já perto do amanhecer, saímos. Um inocente copo com menos da metade com cerveja me acompanhava no caminhar sobre a calçada, quando fui abordado num rompante por dois policiais. Os homens da lei chegaram super incisivos afirmando que eu praticava uma contravenção. Ahn? Eu? Contraventor? Meio temulento enchi o peito de coragem e contei aquela historinha que não era de lá, que estava em Córdoba a passeio, que não sabia que era proibido, que prometia não mais repetir. Pior que sabia da proibição, mas tinha esquecido. Os “hombres” aceitaram o desenrolo e peguei o caminho da hospedagem...

Nas últimas horas na simpática cidade, uma das maiores da Argentina, resolvi que precisava levar um suvenir, uma lembrança daquela cidade onde havia vivido experiências legais durante as férias. Queria a camisa de um time de futebol local, o Club Atletico Talleres ou simplesmente Talleres de Córdoba.

Faltando duas horas para pegar o ônibus que cortaria estradas argentas durante uma madrugada e me levaria a Rosário, outra cidade hermana, corri até o centro comercial  - que me lembrou muito a cidade de Curitiba. Em uma loja havia a promoção:  por 199 pesos eu levava a camisa mais o shorte.do Talleres. Existia uma detalhe, apenas a camisa era objeto de desejo. O vendedor informou que só essa peça me custaria 189 pesos, questionou-me se eu queria o shorte por 10 pesos. Respondi que não. Pra quê? 

Virou um furdunço. Eu realmente só queria a camisa do clube, mas houve uma comoção na loja. Mais dois vendedores vieram me perguntar se eu reamente não queria levar o shorte, um bom shorte, diga-se de passagem. Talvez o povo da loja tenha ficado sem entender, já que para os brasileiros seria equivalente a 5 reais. Eles não concebiam o fato que eu realmente só queria uma peça e não as duas.

Insisti. Disse que tinha pressa porque precisava buscar minha mochila, correr até a rodoviária e emburacar no coletivo. Os vendedores até se mobilizaram, agilizaram a venda. Até que veio um sujeito com pinta de sou o dono do lugar. Devia estar fulo porque os shortes deviam estar encalhados. Olhou pra mim e até de forma simpática me informou: Só vendo camisa e shorte. Camisa separada não sai. Haha. Tive o início de um acesso de riso pela situação absolutamente insana na compra daquilo que seria meu suvenir. Resolvi deixar de ser turrão, desembolsei mais dez pesos e levei o shorte. 

Ironicamente o shorte pode ser sempre visto comigo enquanto corro por ai. A camisa foi usada duas vezes, nada mais. E cheguei em casa com minha difícil lembrancinha cordobesa.

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